A
família é peça chave do trabalho das APAEs, portanto, os pais e demais
familiares são “o coração e a alma da nossa instituição”, nosso trabalho é dar
suporte para que enfrentem as questões pertinentes aos seus. E nossas famílias
estão se deparando com uma nova situação: Nossos
“meninos” estão envelhecendo, e agora?
“É
difícil para o ser humano, em geral, enfrentar as mudanças que surgem de seu
próprio envelhecimento; olhar-nos no espelho e perceber a dolorosa e difícil
realidade de nossa finitude humana, ou seja, aproxima-se a hora em que
deixaremos esta vida pelo menos no plano meramente material.
Quando pais de um filho com deficiência
intelectual se angustiam ao perceber os primeiros sinais de envelhecimento do
filho (que interiormente sempre considerou uma criança); Isso lhe causa um
susto e uma angústia profunda, pois não se sabe o que lhe reserva o futuro,
quando não mais estes estejam a seu lado para lhe dar a atenção integral que
todos os pais de filhos deficientes dão a seus.
Quando as primeiras APAEs foram fundadas,
entre muitas outras entidades que a seguir desabrocharam, a vida média de
filhos deficientes não ultrapassava a adolescência na melhor das hipóteses.
Os pais daquela época – 50 anos atrás – tinham
muitas preocupações sobre como e onde desenvolver, fazer que estudassem seus filhos
pequenos, queriam ensinar-lhes o melhor que fosse possível fazer, já que o
poder público e as autoridades educacionais, não tinham como prioridade, nem
como fato importante, a existência de tantas crianças com deficiências variadas
que tinham direito de estudar como qualquer criança em toda parte, mas não
tinham onde. O futuro não fazia parte de suas angústias, pois com as suas
concepções de “crianças eternas” para criar, não entrava em sua consciência a
questão da longevidade das pessoas que hoje preocupa o mundo todo.
Com o avanço da medicina, melhores
condições de alimentação e de vida, a população brasileira triplicou, e também a
expectativa de vida dos cidadãos. Vemos hoje um grande número de pessoas com
80, 90, 100 anos.
Pesquisas revelam que pessoas com
deficiência intelectual envelhecem mais cedo do que o resto da população e indicam
envelhecimento desde os 30 anos, e, embora não sejam muito claros, por
enquanto, os motivos pelos quais isso acontece. Em todo o mundo prosseguem
estudos para saber mais sobre as causas do envelhecimento mais acelerado de
nossos “meninos” com deficiências.
Estamos vendo pais, que estão envelhecendo
ao lado de seus filhos, e muitas vezes estes que foram sempre protegidos acabam
sendo importante na própria manutenção dos pais, passando de cuidado a cuidador
por uma dessas ironias da natureza. Esse filho, que os preocupou tanto, passa
de protegido a protetor é realmente algo que acontece de fato e fortalece o
vínculo a ponto de não quererem admitir que viva longe deles, numa residência
comunitária, por exemplo, pois isso mexe com seus conflitos interiores, que envolvem
sentimentos de culpa em muitos casos. Como essa situação os incomoda profundamente,
passam a ver em suas mentes e em seus corações seus filhos como verdadeiras
crianças, que na verdade não são. A
Convenção de Direitos das Pessoas com Deficiência, das Nações Unidas fala de autonomia, autodeterminação, escolha da
forma de vida que seus filhos desejam ter, como conciliar isso com a sua superproteção
por ele que mascara na verdade uma rejeição muito grande a sua deficiência.
É urgente, que se implementem com urgência
políticas públicas que permitam ou melhor que dêem ensejo à criação de
residências comunitárias como se faz em muitos países com sucesso.
Nossos pais não têm resposta para sua própria
profunda angústia pessoal quando pensam no futuro de seus filhos com
deficiência, como poderemos responder às muitas perguntas que professores,
outros pais, cuidadores fazem sobre como devem solucionar a questão do
envelhecimento que tanto nos abala.
O mundo hoje é muito mais conectado,
embora muito mais conflitivo, do que antes, e a opinião de alguém que estuda o
envelhecimento de pessoas com deficiência intelectual em qualquer lugar do
mundo é uma bela forma de aprendermos mais sobre esse aspecto da vida que tanto
nos interessa”.
Baseado
no texto de Maria Amélia Vampré Xavier/Diretora de assuntos Internacionais das
APAEs, no último Congresso Estadual das APAEs em Urbelândia/Agosto 2010.