domingo, 1 de maio de 2011

T.O. FALA SÉRIO BRINCANDO...

Hoje trouxe para vocês leitores uma republicação: BRINCAR É COISA SÉRIA! Está sendo postado em sua versão original como foi publicado no jornal do Mutuense Ausente edição dos 25 anos, há 9 anos atrás.
Achei importante manter a originalidade, para relacionar a Terapia Ocupacional dentro de um contexto prático
Felizmente já vemos mudança em nossa cidade, a reforma do parquinho aconteceu e outros espaços surgiram.  E por esta e outras que eu digo: T.O fala sério brincando! Aproveitem!!

BRINCAR É COISA SÉRIA!

          Este trabalho, não é um daqueles artigos saudosistas de mutuense ausente, até porque já estou novamente presente contribuindo para o desenvolvimento de nossa cidade. Quero escrever sobre minha prática (práxis) e sua competência maior: A ATIVIDADE, mais especificamente O BRINCAR; práxis da criança, do adolescente, do adulto, da 3ª idade, por que não? Atualmente tão deturpada, porém valiosíssima para o infante em seu desenvolvimento neuro-psico-motor e futura inserção sócio-ocupacional
          Ao observar infantes principalmente da zona rural e com baixa renda entrando no mercado de trabalho ou infantes de zona urbana com renda média/alta assumindo responsabilidades cotidianas, ambas precocemente. Prevejo conseqüências inúmeras a esta práxis e convido você leitor para uma reflexão sob as escolhas futuras com a qual todos nós deparamos um dia.
T.O. fala sério brincando!
         Vamos retroagir a nossa própria infãncia, aquela Mutum dos tempos das cantigas e brincadeiras de roda; histórias infantis; cirquinho; teatrinho; casinha; bichinho de estimação; piques; caveiras-de-abóbora - quando a luz ia embora; pic-nic; excursões as nossas serras e pedras; ruas-de-recreio; festa juninas; passeios a roça - andar a cavalo, pescar; viagens a Guarapari - literalmente mineira; prezinho no parquinho - quanta riqueza sensorial !!! Contato natural com todas os elementos da natureza (água, ar, sol e terra) que favorecem: estímulos auditivos; gustativos; olfativos; visuais; táteis cinestésicos (sentido de movimento), estereognósicos (forma, tamanho), proprioceptivos (sensações profundas) entre outros; incorporação dos esquemas do corpo; treinos do equilíbrio, da coordenação, da lateralidade - todos eles integrando-se a nível de núcleos da base no SNC (sistema nervoso central); construção do símbolo, do afeto, da estima, das relações grupais, da privacidade, o exercício do amor nas suas variadas formas: mãe/ filho(a), pai/mãe, irmão/irmã, amigos, namorados, profissionais; o aprendizado da ética, da moral e de bons costumes. 
          Estabeleçamos agora um paralelo a infância de hoje: 
• Cadê o parquinho? E o poli esportivo, para que serve? Pr’a jogar bola os meninos pulam a cerca do parquinho ou apostam corrida de bicicleta e da vida em torno do mesmo, correndo o risco de serem atropelados.
• Tem a praça. E é de quem? O patins e a bicicleta há um tempo atrás não podiam transitar na Benedito Valadares - é o lugar do namoro; mas que relações são construídas onde a infância e a adolescência não tem espaço para construção e exercício do afeto? Amizade, flerte, paquera - as primeiras experiências do conhecimento de si e do outro. Não mais a praça, só espaço para sanduíches gordurosos, um pequeno espaço na esquina para o pipoqueiro e o amendoeiro, naquele pedacinho fechado um tímido pula-pula. Os circos e parques que chegam. . . vão embora rápido!?
• Ah! Lá nos restaurantes escolas e clubes particulares têm play groud - mas só para quem pode ir lá.
• Mas na APAE para o infante especial, tem Brinquedoteca – espaço artificializado.
• E as cachoeiras? Sem segurança para banhistas.
• A 2ª atividade física praticada, a caminhada - claro que a primeira é o futebol - ainda não tem espaço seguro e divide a via com charretes, carroças e carros. 
• Tem menino de rua! Não mais menino na rua brincado de bola de meia e queimada, eles estão em casa no vídeo game e no computador - rumo ao futuro! Que futuro é esse que não prevê o conhecimento e a segurança do corpo do indivíduo, e do desenvolvimento do ser em todas as suas potencialidades e necessidades? 
          Comecei falando que o BRINCAR é propriedade do infante, mas agora já era, porque como adulto ele poderá beneficiar-se pouco DELE se não tiver oportunidade de usá-LO terapêuticamente - como habilidade adquirida. Quando é, ele continuará usando-O na adolescência - evitando depressão e a experiência com drogas; quando adulto - resolvendo situações inusitadas do cotidiano, evitando alcoolismo, drogadicção, violência, separações etc; na 3º idade - prevenindo doenças e preconceito. 
Brincar é coisa séria!
        Nós Terapeutas Ocupacionais postulamos que quando um infante não brinca, deveríamos nos preocupar tanto, como quando ele se recusa a comer ou dormirBRINCAR não é um mero passa tempo como poderíamos supor em nosso saber comum. NELE, estão inclusos informações sensoriais e construções preciosas ao desenvolvimento do indivíduo, como falei em parágrafos anteriores: _Há sabedoria no BRINCAR exploratório, livre e criativo. 
          Há uma publicação recente que defende que no novo milênio os infantes voltarão a BRINCAR. Estaríamos resgatando nossas origens, como acabamos de fazer com o advento da eletricidade x racionamento de energia? Ou descobrimos como os que fazem a viagem e trilha a Santiago na Espanha, que temos que abrir mão do superfulo e nos atermos ao essencial - ao básico para a sobrevivência vital e o cumprimento de nossos objetivos espirituais: habilitadores (pais e professores) e reabilitadores (terapeutas). Já evoluímos muito, não vestimos mais nosso infante como adultos - externamente. Ao nos questionar poderemos descobrir que estamos fazendo isto - internamente, antecipando uma “modernidade” e evitando suas próprias descobertas.
          Deparamo-nos com duas situações emergenciais: 
• Criarmos e ampliarmos espaços estruturados para que o infante desenvolva-se dentro de um conceito mais amplo de saúde;
• Estarmos atento ao indivíduo que não brinca, encaminhando-o aos serviços de reabilitação, pois o presente não está sendo favorável e o futuro pode ter conseqüências desastrosas; 
          Para tratarmos do BRINCAR coletivo de Mutum precisamos iniciar uma maratona na criação de espaços de BRINCAR extensivo a todas as faixas etárias, indiscriminadamente. Precisamos ocupar-nos com as providências necessárias para isto acontecer. Por que não já?! 
          Seja bem vindo Arquiteto do parquinho, podemos conversar!? Demais Arquitetos, precisamos de mais praças! Futura Turismóloga, e o potencial turístico de Mutum como fica? Sejam bens vindos Monitores e Artistas do Sesc, façam em Mutum a sua morada! Queridos mutuenses ausentes e presentes brinquem muito nesta semana, e levem a experiência integrada em seu corpo mente e espírito e impregnada no coração.