quarta-feira, 1 de junho de 2011

NOSSOS “MENINOS” ESTÃO ENVELHECENDO, E AGORA?


A família é peça chave do trabalho das APAEs, portanto, os pais e demais familiares são “o coração e a alma da nossa instituição”, nosso trabalho é dar suporte para que enfrentem as questões pertinentes aos seus. E nossas famílias estão se deparando com uma nova situação: Nossos “meninos” estão envelhecendo, e agora?
 “É difícil para o ser humano, em geral, enfrentar as mudanças que surgem de seu próprio envelhecimento; olhar-nos no espelho e perceber a dolorosa e difícil realidade de nossa finitude humana, ou seja, aproxima-se a hora em que deixaremos esta vida pelo menos no plano meramente material.
Quando pais de um filho com deficiência intelectual se angustiam ao perceber os primeiros sinais de envelhecimento do filho (que interiormente sempre considerou uma criança); Isso lhe causa um susto e uma angústia profunda, pois não se sabe o que lhe reserva o futuro, quando não mais estes estejam a seu lado para lhe dar a atenção integral que todos os pais de filhos deficientes dão a seus.
Quando as primeiras APAEs foram fundadas, entre muitas outras entidades que a seguir desabrocharam, a vida média de filhos deficientes não ultrapassava a adolescência na melhor das hipóteses.
Os pais daquela época – 50 anos atrás – tinham muitas preocupações sobre como e onde desenvolver, fazer que estudassem seus filhos pequenos, queriam ensinar-lhes o melhor que fosse possível fazer, já que o poder público e as autoridades educacionais, não tinham como prioridade, nem como fato importante, a existência de tantas crianças com deficiências variadas que tinham direito de estudar como qualquer criança em toda parte, mas não tinham onde. O futuro não fazia parte de suas angústias, pois com as suas concepções de “crianças eternas” para criar, não entrava em sua consciência a questão da longevidade das pessoas que hoje preocupa o mundo todo.
Com o avanço da medicina, melhores condições de alimentação e de vida, a população brasileira triplicou, e também a expectativa de vida dos cidadãos. Vemos hoje um grande número de pessoas com 80, 90, 100 anos.
Pesquisas revelam que pessoas com deficiência intelectual envelhecem mais cedo do que o resto da população e indicam envelhecimento desde os 30 anos, e, embora não sejam muito claros, por enquanto, os motivos pelos quais isso acontece. Em todo o mundo prosseguem estudos para saber mais sobre as causas do envelhecimento mais acelerado de nossos “meninos” com deficiências.
Estamos vendo pais, que estão envelhecendo ao lado de seus filhos, e muitas vezes estes que foram sempre protegidos acabam sendo importante na própria manutenção dos pais, passando de cuidado a cuidador por uma dessas ironias da natureza. Esse filho, que os preocupou tanto, passa de protegido a protetor é realmente algo que acontece de fato e fortalece o vínculo a ponto de não quererem admitir que viva longe deles, numa residência comunitária, por exemplo, pois isso mexe com seus conflitos interiores, que envolvem sentimentos de culpa em muitos casos. Como essa situação os incomoda profundamente, passam a ver em suas mentes e em seus corações seus filhos como verdadeiras crianças, que na verdade não são.  A Convenção de Direitos das Pessoas com Deficiência, das Nações Unidas fala de autonomia, autodeterminação, escolha da forma de vida que seus filhos desejam ter, como conciliar isso com a sua superproteção por ele que mascara na verdade uma rejeição muito grande a sua deficiência.
É urgente, que se implementem com urgência políticas públicas que permitam ou melhor que dêem ensejo à criação de residências comunitárias como se faz em muitos países com sucesso.
Nossos pais não têm resposta para sua própria profunda angústia pessoal quando pensam no futuro de seus filhos com deficiência, como poderemos responder às muitas perguntas que professores, outros pais, cuidadores fazem sobre como devem solucionar a questão do envelhecimento que tanto nos abala.
O mundo hoje é muito mais conectado, embora muito mais conflitivo, do que antes, e a opinião de alguém que estuda o envelhecimento de pessoas com deficiência intelectual em qualquer lugar do mundo é uma bela forma de aprendermos mais sobre esse aspecto da vida que tanto nos interessa”.
  
Baseado no texto de Maria Amélia Vampré Xavier/Diretora de assuntos Internacionais das APAEs, no último Congresso Estadual das APAEs em Urbelândia/Agosto 2010.

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